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Mostrando postagens de 2012

Quantas feministas são necessárias pra trocar uma lâmpada? Ou sobre o riso dos outros.

Desde que me entendo por ser pensante, fui daquelas pessoas que discutem ou se retiram quando uma piada racista, sexista, homofóbica e etc. é contada. Sempre tive que ouvir, portanto, que não tenho “senso de humor”.   Eu, no entanto, adoro gente engraçada. Só tenho uma concepção bem diferente do que seja humor. E assistindo ao documentário "O Riso dos Outros" ( disponível aqui! ) vi que felizmente há vários humoristas que compartilham da mesma concepção e do filme tirei a inspiração para escrever esse texto.  Pra mim piada preconceituosa é humor fraco, fácil e, mais do que “politicamente incorreto”, politicamente ativo. Quando alguém faz piada pra rir de negro, de índio, de mulher, de gay, não está só contando uma piada, está endossando um discurso político. Isso porque, como explicou muito bem Alex Castro aqui , para uma piada ser engraçada, é fato, alguém tem que se foder, e a questão toda é: quem é que está se fodendo? Se é o negro, o índio, a mulher, o gay, então

Discurso da revelação do poeta

Meu avô sempre foi um desses avôs exemplares. Quando criança, eu adorava ir pra casa dele e ficar jogando baralho por horas e horas. Foi ele que me ensinou a jogar Escopa, até hoje um dos meus jogos de cartas prediletos. Era sempre assim, de noite íamos pra cama dele, enquanto minha vó assistia televisão na sala, e jogávamos Escopa, ou Memória, ao som do futebol no rádio. Meu vô é americano, mas sempre apoiou os netos na torcida pelo galo. Depois do final de qualquer jogo do atlético, meu primo sempre ligava pro meu avô, e lembro de ouvir atentamente ao debate sobre o jogo que tinha acabado de acontecer. Talvez isso explique a minha paixão atual por futebol... Mas dentre as muitas coisas boas da infância na casa do meu avô – como a coleção de tampinhas, o futebol de botão, a coleção de carrinhos e a pelada com os primos no quintal – a que mais se destacava era a preparação pro Natal. Era sem dúvida a época mais empolgante da minha infância, já que eu auxiliava meus avós com todo

Aqui pisa-se na grama (ou sobre horizontes mais belos)

Sou nascida e crescida em Belo Horizonte-MG e, como boa mineira e belorizontina que sou, sempre respeitei a plaquinha de “não pise na grama”. Pra mim sempre foi óbvio: grama dá trabalho pra cuidar, pra deixar bonita, é sacanagem estragar tudo pisando na grama, afinal tem tanto concreto pra gente pisar por aí, não é mesmo? Desde o início desse ano estou morando em Berlim. Berlim e BH têm muito mais em comum do que possa parecer. Pra começar, são cidades com mais ou menos o mesmo número de habitantes. Depois, aqui também tem quase um bar por esquina e, como em BH, se encontra conhecidos na rua com uma frequência incomum. As duas cidades também se parecem, infelizmente, em coisas ruins, já que em Berlim também tem uma prefeitura destruindo ocupações (ocupações de outro caráter, mas ainda assim, ocupações) e fazendo obra pra todo lado. A diferença mais importante entre as duas, no entanto, me parece ser a seguinte: em Berlim pisa-se na grama. Aqui as pessoas não só pisam, c

50% de cotas. E agora?

Saiu a  notícia  e explodem discussões e questionamentos a respeito. E agora? Será que o mundo vai acabar? Será que começará o apartheid? Será que todos os brancos de classe média/alta vão se matricular nas escolas públicas? Não deveríamos adotar medidas apenas sócio-econômicas? Será que vai cair o nível das universidades?  A resposta pra essas perguntas é bem simples: não. Claro, nada é tão simples assim. Por isso faço aqui um esforço de explicar qual a idéia por trás dessa medida maluca e porque é que ela de maluca, na verdade, não tem nada. Antes de qualquer coisa é preciso entender exatamente qual é a  redação  da lei antes de sair gritando mil coisas a respeito, porque há muita desinformação rolando por aí. Em resumo: No mínimo 50% das vagas das universidades federais deverão ser destinadas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. Dessas vagas, 50% deverão ser reservados aos estudantes oriundos de famílias com renda igual ou inf