Sou
nascida e crescida em Belo Horizonte-MG e, como boa mineira e
belorizontina que sou, sempre respeitei a plaquinha de “não pise
na grama”. Pra mim sempre foi óbvio: grama dá trabalho pra
cuidar, pra deixar bonita, é sacanagem estragar tudo pisando na
grama, afinal tem tanto concreto pra gente pisar por aí, não é
mesmo?
Desde
o início desse ano estou morando em Berlim. Berlim e BH têm muito
mais em comum do que possa parecer. Pra começar, são cidades com
mais ou menos o mesmo número de habitantes. Depois, aqui também tem
quase um bar por esquina e, como em BH, se encontra conhecidos na rua
com uma frequência incomum. As duas cidades também se parecem,
infelizmente, em coisas ruins, já que em Berlim também tem uma
prefeitura destruindo ocupações (ocupações de outro caráter, mas
ainda assim, ocupações) e fazendo obra pra todo lado. A diferença
mais importante entre as duas, no entanto, me parece ser a seguinte: em Berlim pisa-se na grama.
Aqui as pessoas não só pisam, como sentam, deitam e rolam. As vezes
também tem aquela plaquinha de “não pise na grama”, mas ninguém
tá nem aí. E não são só jovens transgressores que não tão nem aí,
a família de comercial de margarina também não tá. Foi aqui que
eu finalmente entendi que não é sacanagem estragar a grama, porque a grama não é pra ser vista, é pra ser vivida. Não
adianta morar em uma cidade linda, cheia de chafarizes, parques,
mesas de madeira ipê e guarda sóis cor fendi, se a gente não pode
tomar banho no chafariz, se não pode tomar sol de biquíni e calção
(ou sem) no lugar que der na telha e se não pode fazer piquenique no
parque (se proibissem piquenique aqui, era capaz de rolar a
revolução!). Berlim é uma cidade bagunçada, suja, cheia de
grafites e móveis velhos nas ruas, mas porque é uma cidade viva,
uma cidade de pessoas, uma cidade na qual o metrô funciona por 48h
seguidas no fim de semana, porque as pessoas têm sim direito ao
lazer. Aqui, ao contrário de BH, se pode entrar com bicicleta nos trens e todo mundo tem uma, usada tanto pra ir trabalhar quanto pra sair à noite (ainda que não tenha ciclovia
em todos os lugares).
Isso
não é uma defesa de Berlim em detrimento de Belo Horizonte. Muito
antes pelo contrário. Em Berlim não tem Praia da Estação, não
tem Duelo de MCs, não tem Sarau Vira Lata, não tem Roodboss Soundsystem, não tem Carnaval (!). E
é justamente por BH ser uma cidade com tanto potencial, com gente
tão disposta, tão engajada, com ideias tão boas, que eu faço com
esse texto um apelo: pise na grama! Compre uma cerveja e sente com os
amigos no chão do Parque Municipal, da Raul Soares, do Parque das
Mangabeiras, da Praça da Liberdade. Jogue peteca, vôlei, futebol ou
o que mais você conseguir pensar na praça perto da sua casa. Sempre
que possível, deixe o carro em casa, economize a grana do ônibus,
use aquela sua bicicleta empoeirada (nem que seja pra dar uma volta
no seu bairro, ou ir no sacolão). Desafie as plaquinhas! Porque todo
dia é dia de Praia da Estação. Todo dia é dia de dizer não pro
Lacerda, e para tudo que o Lacerda representa: uma concepção de
cidade vitrine, que se pode ver, mas não tocar. Uma concepção de
cidade onde se deve voltar do trabalho e sentar na frente da
televisão ou do computador, onde não se deve sair no fim de semana
porque faz barulho, onde não se deve fazer festa na rua porque
“depreda o patrimônio”, onde, de preferência, deve-se levar a
vida de uma pessoa de 70 anos. E é por isso que faço o convite:
vamos pra rua, vamos pros parques, vamos bagunçar a savassi, vamos
fazer arte nos muros, vamos fazer barulho depois das 10 da noite.
Porque “cidade” é só uma parte da palavra, daquela outra, muito
mais importante, começada com F.
(Esse texto vai em
homenagem ao grande amigo, pessoa admirável e, se tudo der certo,
futuro vereador, André Veloso, que luta por uma BH sem catracas)
Mas isso é muito perigoso! Se andarmos perto demais do verde podemos ser contaminados pela clorofila e começar a plantar arvrinhas nos canteiros de obra da prefeitura. Ou, ainda mais grave, podemos virar *hippies* e passar a ocupar a Praça Sete para vender artesanato.
ResponderExcluirPisar a grama não é pra qualquer um. Só pra quem joga golf em condomínio fechado.
Só me pergunto porque que você não fez esse blog antes, querida!
ResponderExcluirQue fofura você dedicar o texto ao André, xuxu! : )
ResponderExcluirE que saudade de você, sua linda. Parece que você 'tá aí há uma década!