Desde criança tenho sentimentos
confusos com relação ao 8 de março, o dia internacional da mulher.
Eu já sabia desde cedo que o 8 de março era uma referência aos
protestos de mulheres por melhores condições de vida e trabalho,
mas mesmo assim algo me incomodava em receber, nesse dia, parabéns e
rosas. Eu, que sempre tive uma veia feminista, mas que até
recentemente não havia me ocupado efetivamente com a questão de
gênero, já quando criança me via às voltas com a seguinte questão:
por que é que estão me dando parabéns?
A pergunta não é trivial e hoje sei que o meu incômodo também não era. A grande maioria dos “parabéns” que recebi até hoje no dia 8 de março foram porque, por ser mulher, eu seria automaticamente meiga, graciosa, delicada, feminina, perfumada, bela, esposa e mãe. Pelo menos é isso que dizem todos os cartões de dia da mulher. Cartões esses que, não só não me agradam, como me ofendem. Isso porque eu recuso esse conceito de mulher enquanto bibelô, enquanto adorno, enquanto objeto da apreciação masculina ou enquanto máquina de reprodução. Recuso consequentemente esse tipo de parabéns, que insiste em dizer que há um único modelo (ou um modelo certo) de mulher, que insiste em dizer que devemos ser passivas e bonitas, que insiste no discurso de que uma mulher não “feminina” é menos mulher, que uma mulher que se relaciona com outras mulheres é menos mulher, que uma mulher que decide não ter filhos ou não se casar é menos mulher, que uma mulher fora dos padrões estéticos é menos mulher, menos digna de respeito e, se duvidar, até merecedora de um estupro, pra citar Rafinha Bastos.
Já prevejo o coro dos muito bem-intencionados homens que me dão esse tipo de parabéns: “deixa de ser feminista mal-amada, é só um parabéns, um gesto bonito, uma homenagem”. E aí respondo que é esse tipo de homenagem que alimenta a lógica de que mulher é propriedade, que pode apanhar e ser estuprada e, nesse tipo de homenagem, estou muito pouco interessada. Se você é realmente bem-intencionado e quer nos prestar uma homenagem, há muitas formas de fazê-lo: comece por parar de utilizar a palavra “feminista” como um xingamento e então pare de nos ver como um objeto sexual, pare de rir de piadas que nos ridicularizam e humilham, pare de achar que somos geneticamente mais frágeis, menos racionais ou qualquer outra bobagem do gênero, pare de julgar nossa vida sexual/amorosa, pare de achar que, se a mulher apanhou ou foi estuprada, a culpa é de seu comportamento ou de sua roupa. Enfim, enxergue o seu machismo e se comprometa a acabar com ele.
Agora, é claro que não recuso todas as formas de parabéns no dia da mulher. A pergunta sempre é: Por que estou sendo parabenizada? Se estou sendo parabenizada por minha resistência diária, por ter que aguentar assédio o tempo todo nas ruas, por lutar constantemente contra uma cultura que me diminui, que me objetifica e que quer me controlar, aceito de muito bom grado. E faço a você um convite: não nos dê apenas parabéns no dia da mulher, mas se junte a nós nos protestos do Dia Internacional de Luta das Mulheres e na nossa luta diária por igualdade e por respeito, garanto que esse gesto significa muito mais do que uma rosa.
A pergunta não é trivial e hoje sei que o meu incômodo também não era. A grande maioria dos “parabéns” que recebi até hoje no dia 8 de março foram porque, por ser mulher, eu seria automaticamente meiga, graciosa, delicada, feminina, perfumada, bela, esposa e mãe. Pelo menos é isso que dizem todos os cartões de dia da mulher. Cartões esses que, não só não me agradam, como me ofendem. Isso porque eu recuso esse conceito de mulher enquanto bibelô, enquanto adorno, enquanto objeto da apreciação masculina ou enquanto máquina de reprodução. Recuso consequentemente esse tipo de parabéns, que insiste em dizer que há um único modelo (ou um modelo certo) de mulher, que insiste em dizer que devemos ser passivas e bonitas, que insiste no discurso de que uma mulher não “feminina” é menos mulher, que uma mulher que se relaciona com outras mulheres é menos mulher, que uma mulher que decide não ter filhos ou não se casar é menos mulher, que uma mulher fora dos padrões estéticos é menos mulher, menos digna de respeito e, se duvidar, até merecedora de um estupro, pra citar Rafinha Bastos.
Já prevejo o coro dos muito bem-intencionados homens que me dão esse tipo de parabéns: “deixa de ser feminista mal-amada, é só um parabéns, um gesto bonito, uma homenagem”. E aí respondo que é esse tipo de homenagem que alimenta a lógica de que mulher é propriedade, que pode apanhar e ser estuprada e, nesse tipo de homenagem, estou muito pouco interessada. Se você é realmente bem-intencionado e quer nos prestar uma homenagem, há muitas formas de fazê-lo: comece por parar de utilizar a palavra “feminista” como um xingamento e então pare de nos ver como um objeto sexual, pare de rir de piadas que nos ridicularizam e humilham, pare de achar que somos geneticamente mais frágeis, menos racionais ou qualquer outra bobagem do gênero, pare de julgar nossa vida sexual/amorosa, pare de achar que, se a mulher apanhou ou foi estuprada, a culpa é de seu comportamento ou de sua roupa. Enfim, enxergue o seu machismo e se comprometa a acabar com ele.
Agora, é claro que não recuso todas as formas de parabéns no dia da mulher. A pergunta sempre é: Por que estou sendo parabenizada? Se estou sendo parabenizada por minha resistência diária, por ter que aguentar assédio o tempo todo nas ruas, por lutar constantemente contra uma cultura que me diminui, que me objetifica e que quer me controlar, aceito de muito bom grado. E faço a você um convite: não nos dê apenas parabéns no dia da mulher, mas se junte a nós nos protestos do Dia Internacional de Luta das Mulheres e na nossa luta diária por igualdade e por respeito, garanto que esse gesto significa muito mais do que uma rosa.
Muito bom texto, Nat. Compartilho muito do que você expressa. Que os parabéns se concretizem na forma de respeito e deixem de ser uma reificação do machismo nosso de cada dia.
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