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Dilma com outra roupa? Uma análise feminista das eleições

É a primeira vez que temos duas mulheres liderando as pesquisas para presidente do país, com chances reais de se enfrentarem no segundo turno. O macho-alfa Aécio (que até recentemente, estava crente que iria abalar) se desesperou e resolveu atacar suas duas concorrentes de uma só vez: por meio, claro, do machismo. Ouvi hoje seu mais novo jingle, que termina com a seguinte frase: "Marina é Dilma com outra roupa". Fiquei indignada e resolvi reunir nesse texto todas as impressões que tenho tido das campanhas no que tange à discussão feminista.

Após sofrer ataques recentes, Marina fez um apelo feminista à Dilma: "Por favor presidente, venha para o debate, apresente seu programa, mas não queira, a primeira mulher presidente da República, destruir uma outra mulher que também tem o direito de participar da democracia", durante comício em Campina Grande, interior da Paraíba. Programas políticos à parte, essa é uma das declarações mais feministas que ouvi até agora nas eleições. Este apelo feminista de Marina tem que ser ouvido por Dilma e por todas as mulheres: elas está falando da importância da sororidade em um ambiente tão masculino e patriarcal como é o da política no Brasil.

As candidatas Marina Silva, Dilma Rousseff e Luciana Genro
E esse apelo vale a todas as pessoas anti-Marina (e anti-Dilma). Destruir a Marina (ou a Dilma) com menção a suas roupas, seu penteado, seu corpo, seu rosto, suas lágrimas (só o Lula chorando que é bonito, né?, como bem lembrado neste texto), é sujo, é essencialmente machista, e presta um desserviço às conquistas que as mulheres estão, a duras penas, tentando fazer.

Marina também é a única candidata que, nos debates, tem o cuidado de incluir as mulheres na linguagem: "brasileiros e brasileiras". Interessante também a opção da candidata de contrariar todos os padrões estéticos supostamente femininos e não fazer a sobrancelha. Isso, para uma mulher, (infelizmente) ainda é uma opção política. 

Estes são elementos pontuais (e muito interessantes) de Marina, mas que não necessariamente fazem dela uma feminista. Com a declaração "Quem foi para o programa eleitoral caluniar, tentar fazer uma desconstrução da minha história e da minha biografia, foi a candidata do presidente Lula", Marina dá um passo atrás, ao se referir à Dilma simplesmente como "candidata do presidente Lula", sem sequer dizer seu nome. É como falar da fulana como namorada do fulano. Por algum motivo a mulher desaparece e vira a sombra de um homem, como se não tivesse mérito nenhum de estar ali.

Dilma, por sua vez, reúne também elementos bastante feministas. Sua opção por usar o termo “presidenta“ para ressaltar que pela primeira vez temos uma mulher ocupando este cargo e sua ênfase nas políticas públicas voltadas às mulheres (como podemos ver aqui) são bons exemplos disso. Dilma também dá, no entanto, um passo atrás quando cede às pressões conservadoras e muda de posição com relação à descriminalização do aborto (antes de se declarar contra, ela havia se posicionado a favor).

O fato é que o macho-alfa Aécio e os machos-alfa todos desse Brasilzão estão doidos pra ver Marina e Dilma fora do poder, "mulher não serve pra governar" (se eu ganhasse um real a cada vez que escuto essa frase...). E é esse o pensamento por trás do jingle asqueroso do PSDB, de que 'mulher é tudo igual, o máximo que muda é a roupa'. E por que fazer referência à roupa? Por acaso alguém está falando da roupa que usam os candidatos homens? Por que as mulheres têm sempre que ser reduzidas por meio da estética? (Entram aí todos os memes e "piadinhas" que falaram da "feiura" das duas candidatas, ou a moda do twitter de dizer que "Marina é a Dilma/Aécio de saia", ou ainda a grosseria de Eduardo Jorge com Marina no debate, que apesar de defender posicionamentos de esquerda, é homem e isso faz diferença, como pode-se ver ao lado).

Não se trata aqui de fazer um tribunal para decidir quem é e quem não é alguma coisa, as duas candidatas trazem contradições, mas apresentam sim discursos e praticas fortemente feministas e isso tem que ser ressaltado. Sei que no calor do momento saem frases impensadas e faço votos de que as duas candidatas pensem melhor antes de proferi-las e que se aproximem cada vez mais de um posicionamento feminista, que é o único que faz com que estejam lá, disputando a presidência do país.

Não quero, portanto, defender ou atacar nem Dilma nem Marina, tenho críticas aos programas de governo das duas e me sinto mais coerente apoiando Luciana Genro, que se compromete com as revindicações feministas e de outras minorias (e muito feliz por votar, pela primeira vez em uma eleição, em mais mulheres do que homens). Mas acho incrível que tenhamos duas mulheres no topo da disputa. Sou pelas mulheres no espaço público, pelas mulheres na política e, se é pra ter no poder os partidos de sempre, que ao menos mudemos o imaginário sobre os lugares e papéis das mulheres. Que agora também as meninas, e não só os meninos, possam pensar "um dia vou ser presidente da republica", sonho negado de antemão às meninas das gerações anteriores.

Críticas à parte, agradeço muito à Dilma, à Marina e à Luciana por segurarem o rojão de entrar em um universo ainda tão hostil às mulheres como é a política. Que venham muito mais mandatos de mulheres pela frente!


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