“Finalmente um filme que fala de maternidade sob uma perspectiva feminista” foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando terminei de ver o incrível “Olmo e a Gaivota”. E não por acaso a ficção documental, que mostra o ponto de vista de uma atriz de teatro durante sua gravidez real, foi dirigida por duas mulheres, a brasileira Petra Costa e a dinamarquesa Lea Glob. A forma através da qual as diretoras misturam ficção e realidade faz com que o filme seja muito mais do que a discussão sobre um tema importante: ele é propriamente uma obra de arte.
Como é bom – e raro – assistir a filmes de mulheres!
Racionalidade à parte, os sentimentos que me vieram foram vários: fiquei profundamente tocada com esse filme, que conversou diretamente com minhas muitas questões em torno da maternidade (uma realidade ainda ausente da minha vida, mas que se mostra cada vez mais próxima e possível).
Não sei se quero ser mãe. Sei que agora não quero – apesar de que sei também que não interromperia uma gravidez, caso ela ocorresse – e me angustia muito pensar no que vai acontecer na minha vida quando (ou se) eu ficar grávida. Assim como Olívia, personagem real do filme, gosto de liberdade e independência, tenho muitos projetos e não quero abrir mão de nenhum deles, gosto de sair, de beber, de dançar e tenho pavor a me sentir presa em um lugar. Como conjugar todos esses anseios pessoais, duramente conquistados em uma sociedade que não quer que nós mulheres sejamos livres, com uma gravidez?
Essa é uma das questões colocadas pelo filme, que discute o sacrifício que as mulheres fazem (e ai delas se não fizerem!) pelas suas crias. Como é que o bem estar de um feto pode ser alvo de tanta preocupação e o bem estar da pessoa que o carrega de nenhuma? Não importa se Olívia quer sair, Olívia tem que ficar em casa. Não importa se Olívia quer trabalhar, Olívia tem que ficar em casa. Olívia não é mais uma pessoa, Olívia é apenas meia pessoa que, como bem diz ela própria, trabalha sozinha por um filho que não é só dela, é também de Serge. Serge, por sua vez, apesar de estar presente, continua trabalhando, continua saindo, continua bebendo.
E é assim que a condição de gerar uma vida, que é linda, acaba por ser também um fardo nessa sociedade que não é feita para mulheres livres, e menos ainda para mães e gestantes, esses seres fadados ao sacrifício. Não podem sequer amamentar em público! E esse sacrifício que começa na gravidez não deve terminar nunca, ou serão essas mulheres jogadas na fogueira das péssimas mães (leia aqui o texto de Eliane Brum sobre o assunto).
Mas Olívia não, Olívia é diferente, Olívia quer dar uma festa.
Olívia não responde à corriqueira pergunta “como vai o bebê?”. Não. Responde a uma outra, cuja resposta parece não interessar a ninguém: “Olívia, como vai vocẽ?”
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