Após o resultado das eleições 2014, vi várias pessoas e analistas dizendo que nada mudou no cenário eleitoral depois das manifestações de junho de 2013, ou que o congresso ficou ainda mais conservador.
Afinal de contas, o que as manifestações de Junho têm a ver com o resultado das eleições? Minha resposta é relativamente simples: nada.
Se não podemos definir sobre o que exatamente eram as manifestações, dada a imensa diversidade de pautas, podemos ressaltar facilmente que o repúdio a bandeiras e partidos de qualquer posicionamento ideológico veio com força total (por vezes de forma inclusive violenta). As jornadas de junho vieram pra mostrar o tamanho da descrença da juventude no atual sistema democrático representativo e, se estamos falando justamente de uma profunda crise de representação, é claro que não é nas urnas que a voz das ruas vai se expressar. Essa eleição foi como dar uma questão fechada a jovens que só querem questões abertas, ou melhor, querem mesmo é elaborar a prova. Sem contar que grande parte das(os) manifestantes tinham entre 15 e 18 anos, ou seja, a maior parte deles sequer tem título de eleitor e isto é também um dado relevante.
Talvez o único dado relativo às eleições que expresse os gritos de junho seja o grande número de votos nulos, brancos e não comparecimentos (digo talvez porque as razões das abstenções podem ser múltiplas e de difícil identificação). O fato é que mais de 27 milhões de pessoas votaram nulo, branco, ou não votaram, havendo um aumento de 7% com relação às eleições passadas. A porcentagem de pessoas que não votaram em ninguém chega a 29%: mais do que a votação da Marina, quase a votação do Aécio. Mas por algum motivo sobre isso não vemos nenhuma análise nas grandes emissoras.
O resultado das eleições reforça o conservadorismo desse processo e a pouca possibilidade de mudança através do mesmo: na câmara federal, apenas 15,2% dos eleitos são homens pardos e apenas 3,5% se declaram pretos. A situação das mulheres é ainda pior, umas vez que mulheres brancas ocupam 8% das cadeiras, mulheres pardas, 1,6%, e as que se declaram pretas somam míseros 0,6%!
Gráfico feito por Luiz Agusto Campos com dados do TSE |
Por essas e outras que, apesar de ser jovem, de ter participado das manifestações e de sentir enorme descrença no processo eleitoral, não anulei nenhum voto, com a orientação de votar em mulheres, de preferência negras, por achar urgente ocuparmos o lugar da política oficial com vozes minoritárias. Mas conheço e entendo muita gente que se recusou a votar, por não acreditar nessa dita democracia, que em um país onde mais da metade da população écomposta por mulheres e pessoas negras, tem 70% de homens brancos ditando a política.
Em resumo, se analistas querem tanto saber quais foram os desdobramentos das manifestações, devem olhar nos escritos nos muros, nos movimentos espontâneos e horizontais que pipocam nas grandes cidades, nas discussões travadas nas redes sociais, mas por favor, não olhem para a contagem de votos. Definitivamente não é através deles que a gente está falando.
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