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Mostrando postagens de 2013

Lulu e Tubby: por que somos contra?

Primeiro surge o Lulu, um aplicativo no qual mulheres avaliam homens com os quais já se relacionaram. A revolta masculina é geral: estão querendo nos avaliar? Nos dar notas? Nos expor? Justo nós, que estamos acima de qualquer avaliação? Quem via a polêmica de fora (meu caso, já que não tenho smartphone para ter o aplicativo) achava que os homens estavam sendo alvo de uma verdadeira inquisição. Quando fiquei sabendo de quais eram os hashtags, no entanto, vi que se tratava de violência zero: “nerd”, “cara legal”, “imaturo” e “lembra aniversários” são exemplos das “classificações absurdas” das quais eles estavam sendo alvo. Muitos argumentaram que o problema era a ausência de privacidade, a ausência de controle sobre seus dados, a quantificação e superficialidade das relações. Bem, eu concordo que tudo isso é ruim, mas será que foi o Lulu que inaugurou essas coisas? O Facebook, o Google, a Apple e várias outras empresas já acabaram há muito tempo com nosso direito sobre nossos p

Por que o Espaço Comum Luiz Estrela é mais do que uma ocupação cultural

Foi inaugurada, em 26 de outubro em Belo Horizonte, uma experiência artístico-político-cultural totalmente nova: o Espaço Comum Luiz Estrela, uma ocupação que pretende ser um centro cultural autogestionado. Acompanhei de perto o processo de planejamento, apesar de não fazer efetivamente parte dele, e digo aqui de algumas impressões sobre o mesmo e sobre os significados dessa iniciativa. A primeira coisa que me chamou atenção foi o comprometimento intenso do grande número de pessoas envolvidas no processo de concepção, ocupação e organização do espaço. Pessoas que tiveram muito trabalho para tornar esse projeto realidade por acreditarem profundamente na construção coletiva, na autogestão, no potencial revolucionário da arte, na importância de ocupar e pautar a cidade. A segunda coisa que me chamou atenção foi a coerência do processo. Além da construção ter sido sempre baseada no diálogo horizontal intenso, a arte serviu como meio, e não apenas como fim. Tanto a vistoria como

Sheik volta atrás, Nanda continua depilada

Depois da polêmica que Nanda Costa causou por posar nua “sem estar depilada”, estando, no entanto, indubitavelmente depilada, mais um banho de machismo, homofobia e conservadorismo: o jogador Emerson Sheik, após o corajoso (infelizmente esse adjetivo ainda faz sentido nesse contexto) selinho no amigo, se “desculpa” por ter “ofendido os corinthianos” e termina com uma piadinha homofóbica, pra que ninguém duvide de sua macheza. A declaração foi precisamente esta: "Lamento se ofendi a torcida do Corinthians, não foi a minha intenção. Foi só uma brincadeira com um amigo, até porque eu não sou são-paulino" ( leia a notícia aqui ). Esses dois casos me chamaram particularmente a atenção por conseguirem expor o nível completamente absurdo (para não dizer surreal) de machismo, homofobia e intolerância da nossa sociedade. No primeiro, temos uma mulher que, mesmo estando depilada, causa polêmica por não estar. Sintoma de uma sociedade que impõe tantos procedimentos estéticos sobre

Quem ocupa a câmara? Sobre lutas efetivamente horizontais.

Recentemente, a Ana Flávia Magalhães Pinto escreveu um texto crítico à Marcha das Vadias de Brasília. Dizia que não havia espaço real para a discussão da negritude dentro da marcha. Eu que, apesar de branca e de classe média, me engajo na luta contra o racismo desde que entrei na faculdade, e que me engajei também muito na marcha das vadias de Belo Horizonte, fiquei bastante incomodada. Meu primeiro pensamento foi: mas... nós não somos racistas! Alguns segundos depois percebi o quão enganada eu estava. Me lembrei que “Não somos racistas” é o nome de um livro de Ali Kamel defendendo a não existência do racismo no Brasil (e, portanto, a não necessidade de políticas que promovam a igualdade racial), posição contra a qual eu sempre lutei. Ora bolas, é claro que somos racistas, somos muito racistas. E admitir isso é o primeiro passo pra mudar. Alguns dias depois me vejo na posição da Ana Flávia: Na ocupação da Câmara Municipal de Belo Horizonte a predominância da fala masculina assu

O escudo sagrado do Galo e o espaço sagrado do futebol

Nos últimos dias, a Galo Queer criou muita polêmica, menos por fazer uma campanha contra o sexismo e a homofobia no futebol e mais por ter colorido parte do escudo do Atlético-mg com as cores da bandeira do movimento LGBT. Mas... será que essas duas coisas estão realmente separadas? Dentre várias manifestações de apoio, também muitas manifestações de repúdio surgiram, a maioria contendo os seguintes argumentos: “o escudo do Galo é sagrado”, “vocês podem fazer o movimento que quiserem, mas não mexam com as cores do Galo, tradição é tradição”, “É uma palhaçada misturar futebol com política, só pra chamar a atenção” e por aí vai. Várias pessoas sugeriram, para amenizar a situação, que se colocasse a bandeira LGBT atrás do escudo, ou as cores em volta do escudo, mas que se mantivesse o escudo original. É interessante, no entanto, ver o que está por trás desses discursos todos. O primeiro aspecto é que o ataque ao escudo colorido é uma forma menos explícita de se pronunciar contra

Parabéns no dia das mulheres?

Desde criança tenho sentimentos confusos com relação ao 8 de março, o dia internacional da mulher. Eu já sabia desde cedo que o 8 de março era uma referência aos protestos de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, mas mesmo assim algo me incomodava em receber, nesse dia, parabéns e rosas. Eu, que sempre tive uma veia feminista, mas que até recentemente não havia me ocupado efetivamente com a questão de gênero, já quando criança me via às voltas com a seguinte questão: por que é que estão me dando parabéns? A pergunta não é trivial e hoje sei que o meu incômodo também não era. A grande maioria dos “parabéns” que recebi até hoje no dia 8 de março foram porque, por ser mulher, eu seria automaticamente meiga, graciosa, delicada, feminina, perfumada, bela, esposa e mãe. Pelo menos é isso que dizem todos os cartões de dia da mulher . Cartões esses que, não só não me agradam, como me ofendem. Isso porque eu recuso esse conceito de mulher enquanto bibelô, enquanto adorno